Em entrevista ao podcast Desculpincomodar, a artista falou de angústia, defesa pessoal e cuidados com empresários
A cantora Vanessa da Mata, que completa 20 anos de carreira em 2025 e lançou o álbum “Todas Elas” em março, afirmou em entrevista que conviveu com diferentes formas de violência de gênero ao longo da vida. Em depoimento ao podcast Desculpincomodar, apresentado por Sérgio Martins e Zé Pedro, ela relatou episódios desde a infância até tentativas de violência mais recentes.
Depoimentos e memória dolorosa
Vanessa descreveu lembranças marcantes da infância: “No berço, lembro de um homem mexendo comigo, fazendo coisas de que eu não gostava. Lembro da angústia que aquilo me causava. Até hoje tenho claustrofobia quando me sinto presa”. O relato aponta para um trauma precoce que, segundo a cantora, acompanhou outras fases da vida.
Ela também recordou situações recorrentes de assédio em espaços públicos: “Quando eu jogava basquete, entrava no ônibus e já era mão na minha bunda, porque tenho uma bunda grande. Passei a vida escondendo isso, mas era muito difícil”. Em muitos episódios, Vanessa disse que reagiu: “Aprendi a me defender”.
Tentativas de estupro e reação diante da violência
Além dos assédios, a artista afirmou ter sido assaltada cerca de dez vezes e revelou que, em duas dessas ocorrências, houve tentativa de estupro: “Em duas dessas situações, houve tentativa de estupro. Você precisa aprender a dizer não mesmo quando já está na posição de vítima”, alertou.
Sobre sua postura frente a agressões a outras pessoas, Vanessa contou um episódio em que interveio para impedir um atentado: “Sou muito forte, geralmente mais que os meninos. Estava no carro quando vi um rapaz de moto em cima de uma menina. Abri a porta, meti a mão e perguntei: ‘Está precisando de ajuda?’. É mais forte do que eu. Não consigo ser espectadora”.
Ela também expressou vigilância constante diante da violência de gênero no país: “É o tempo todo. Você está no Brasil e vê acontecer direto. Quando é comigo, eu fico estatelada, mas quando é com outra, reajo.”
Golpes no início da carreira e cuidados atuais
Vanessa relatou ainda ter passado por golpes no começo da trajetória artística, o que a levou a adotar hoje um cuidado maior com sua gestão financeira: “Meu empresário atual já provou várias vezes que é honesto, mas eu sempre tenho alguém que observa o trabalho dos empresários. Já fui roubada. Quem não foi? A capacidade de criar tira você do financeiro, e esse não é o meu talento. Então tenho quem cuide disso por mim.”
Ao falar sobre ambição e origem, reafirmou suas metas pessoais: “Sou uma criatura de muita ambição. Sempre fui. Não saí de uma cidade de 5 mil habitantes, em Alto Garças, no interior do Mato Grosso, fingindo não ser ambiciosa. Eu sou.”
Contexto e implicações
Os relatos de Vanessa ecoam um cenário mais amplo de violência contra a mulher no Brasil, onde episódios de assédio, roubo e agressão são frequentemente denunciados. Sua fala combina memória pessoal e um apelo à reação frente às injustiças: intervir, proteger vítimas e buscar segurança.
Como registro jornalístico, a entrevista reúne experiências vividas pela artista — sem indicação de datas precisas para cada episódio além do relato público — e reforça a necessidade de políticas públicas e apoio para vítimas. Também chama atenção para a importância da proteção jurídica e financeira de profissionais da cultura que, segundo a cantora, muitas vezes têm de delegar a gestão econômica para preservar sua criação artística.
Reflexão cristã — Leonardo de Paula Duarte
Os relatos de dor e resistência dividem espaço com sinais de coragem e cuidado. Em momentos assim, a fé pode oferecer consolo prático e esperança. Como diz a Escritura: “O Senhor está perto dos que têm o coração quebrantado; salva os de espírito abatido.” (Salmo 34:18, NTLH).
Essa passagem nos lembra que a solidariedade ativa — intervir, acolher, apoiar — é uma resposta desejável e possível para a comunidade. Enquanto jornalista e cristão, creio que ouvir histórias como a de Vanessa é também convocação para agir com justiça e compaixão, sem sensacionalismo, buscando proteger vítimas e fortalecer redes de acolhimento.
— Leonardo de Paula Duarte

