Entenda o básico e evite perdas: seu dinheiro também pode estar em pontos
Com o verão chegando, programas de milhas voltam a ganhar atenção como alternativa para reduzir custos de viagem. Só no primeiro trimestre de 2025, brasileiros acumularam mais de 225 bilhões de pontos, a maior parte convertida em passagens.
Mas milhas não são só cifra no sistema: são valor real que pode expirar ou ser mal usado. Como lembra um especialista do setor, “Se a pessoa for acumulando e não usar, e o programa de milhas vencer, ela vai perder aquele dinheiro. Na prática, a milha é dinheiro”.
Erros comuns e como não perder milhas
Alguns deslizes repetidos elevam o risco de perder valor ou de trazer prejuízo financeiro:
1. Gastar além do necessário — cartões e compras apenas para acumular pontos podem levar ao endividamento. Como recomenda a consultora Myrian Lund, é fundamental “definir um limite de gastos no cartão e não ultrapassá-lo”.
2. Ignorar o vencimento — acompanhar o saldo e os avisos do programa é crucial. Especialistas lembram que as empresas devem avisar sobre pontos próximos do vencimento; uma medida simples é seguir o conselho de Lucas Estevam e “coloque um alerta no celular com 30 dias de antecedência”.
3. Trocar por produtos com baixo custo-benefício — panelas, eletrodomésticos e muitas ofertas de shopping interno costumam oferecer valor inferior ao uso em passagens ou experiências.
4. Comprar milhas diretamente das companhias sem checar preço — em muitos casos, comprar em balcões de milhas ou de fontes mais baratas é melhor. Conforme alertado, “10 mil milhas que custariam entre R$ 100 e R$ 150 em um balcão de milhas podem sair por R$ 700 se adquiridas diretamente da empresa de viagens”.
Vale a pena comprar milhas? Quando faz sentido
A resposta curta: depende do contexto. Comprar milhas pode ser justificável quando falta uma pequena quantidade para completar um resgate com bom custo-benefício. Fontes alternativas (balcões de milhas ou vendedores especializados) costumam oferecer preços melhores do que a compra direta das companhias.
Em período de juros altos, há também quem venda milhas para transformar em investimento, o que aumenta a oferta e pode reduzir preços para quem compra.
O que dá para resgatar com milhas
Além de passagens, as milhas podem ser trocadas por:
– Hospedagens e aluguel de carros;
– Produtos e serviços no “shopping” dos programas;
– Experiências (ingressos para parques, atrações);
– Em alguns casos, conversão em cashback ou crédito em cartões.
Quantas milhas preciso para viajar?
Há variações, mas existem referências práticas: trechos domésticos podem sair a partir de 7.500 milhas em programas como AAdvantage. Para voos dentro da América Latina, é comum encontrar resgates a partir de 10.000 milhas por trecho.
Em rotas mais longas, o uso de milhas pode reduzir muito o custo: é possível encontrar passagens de ida e volta em classe executiva para Ásia por valores finais equivalentes a cerca de R$ 9.000 a R$ 10.000 (quando bem aproveitadas), enquanto a econômica para os mesmos trechos pode sair por aproximadamente R$ 3.000.
Principais programas no Brasil: diferenças práticas
Smiles (GOL)
Acúmulo: voos GOL e +50 parceiras, hotéis, aluguel de carro, serviços, shopping Smiles, cartão Gol Smiles (até 5,5 milhas por dólar) e Clube Smiles (planos com milhas mensais e bônus).
Resgate: passagens, hotéis, aluguel de carro, produtos e opção Milhas & Money (milhas + dinheiro).
Validade: varia de três a 20 anos; no Clube, duram dez anos e, em planos maiores, parte pode não expirar.
Clube: a partir de R$ 39,90/mês com benefícios como congelamento de preço e acesso a lounges.
Latam Pass
Acúmulo: voos Latam e parceiras, cartão Latam Pass Itaú, Shopping Latam Pass, restaurantes e transferências de bancos.
Resgate: passagens (sem restrição de inventário), upgrades, bagagem extra, assentos e produtos no shopping.
Validade: 36 meses; após isso, não expiram se continuar acumulando em voos Latam. Para status Elite, mantêm validade ligada ao status.
Clube: cinco planos (R$ 40,90 a R$ 356,80/mês) com bônus e promoções.
Azul Fidelidade
Acúmulo: voando Azul (1 a 4 pontos por real, conforme categoria), Clube Azul, cartão Azul Itaú e parceiros.
Resgate: passagens nacionais e internacionais (Azul e 3.000 destinos parceiros), produtos, experiências e vales no Shopping Azul.
Validade: pode chegar a até cinco anos; alguns planos e cartões oferecem pontos que não expiram.
Clube: planos a partir de R$ 42/mês com pontos mensais e bônus em transferências.
Como escolher o programa certo para você
Considere seu perfil e objetivos:
– Quem viaja com frequência: opte por programas das companhias aéreas e cartões cobranded.
– Quem busca economia nas compras do dia a dia: avalie programas de varejo e transferências de pontos.
Como orientação geral, alinhe o programa aos destinos e parceiros que você realmente usa, e prefira concentrar acúmulo em menos opções para maximizar o saldo útil.
Reflexão prática e cristã sobre planejamento e propósito
Como colunista e cristão, considero pertinente lembrar que a gestão responsável dos recursos — inclusive das milhas — é também uma questão de sabedoria prática. A Bíblia nos lembra que planejamento e poupança fazem parte de uma vida equilibrada: “Na casa do sábio há comida e azeite armazenados, mas o insensato devora tudo o que pode.” (Provérbios 21:20, NTLH).
Isso não é um chamado a acumular por si só, mas a usar com propósito. Quando as milhas ajudam a visitar família, servir em missões ou proporcionar descanso saudável, elas cumprem um papel bom no orçamento e na vida.
— Leonardo de Paula Duarte
Checklist rápido antes de resgatar
– Verifique validade e configure alertas com 30 dias de antecedência.
– Compare comprar milhas X comprar a passagem; não compre por impulso.
– Evite trocar por produtos com baixo retorno financeiro.
– Considere clubes e assinaturas apenas se o volume de viagens justificar.
Planejamento, atenção às regras dos programas e uso intencional transformam pontos dispersos em viagens de valor. Com cuidado, milhas podem ser uma ferramenta real para economizar e realizar sonhos sem comprometer a saúde financeira.

