Tallis Gomes: “O Estado penaliza quem gera emprego” — imposto sobre dividendos, inflação pós‑pandemia e risco de estagflação

Diagnóstico duro sobre impostos, moeda e o ambiente de negócios

Tallis Gomes, presidente executivo da G4 Educação e fundador da Easy Taxi e da Singu, deu entrevista exclusiva ao ND Mais em São Paulo com um diagnóstico crítico do atual cenário econômico brasileiro. Segundo ele, entraves tributários e falta de coordenação entre setor público e iniciativa privada “travam o crescimento nacional e sufocam o empreendedor”.

Tributação e emprego: a crítica direta

Para Tallis, a situação piorou com a aprovação do imposto sobre dividendos, que colocou o Brasil entre “os países com maior carga efetiva do mundo”. Ele destaca a incidência de tributos em toda a cadeia produtiva e seu efeito direto na geração de empregos: “Hoje, se eu quero pagar R$ 10 mil de salário, essa pessoa me custa R$ 18 mil, e recebe R$ 7,5 mil. O Estado ganha mais do que o trabalhador. Isso não é justo”.

O empresário também rebate a narrativa de que empreendedores seriam privilegiados: “Mais de 80% dos empreendedores vivem com dois salários mínimos de lucro. É essa a verdade”. Para ele, o modelo atual cria uma cisão entre quem produz riqueza — trabalhadores e empresários — e uma elite burocrática que “não produz valor, mas captura recursos”.

Pandemia, moeda e custo do risco

Tallis afirma que o empresariado foi um dos mais penalizados pelas medidas da pandemia, citando lockdowns, uma alta abrupta do dólar e a “maior impressão de dinheiro da história do real”. Em tom sintético, disse: “Destruímos o valor da moeda”, lembrando que a combinação entre aumento da dívida pública e perda de confiança eleva o prêmio de risco exigido pelos investidores.

O efeito prático, segundo ele, é que quem paga a conta são os empreendedores e, em sequência, os consumidores. Tallis alerta para o risco de um quadro de estagflação após 2026 caso o governo mantenha o que chamou de “política de bondades populistas”.

Propostas pragmáticas para atrair capital em AI e terras raras

Além das críticas, o empresário apresentou propostas concretas para captar investimentos. Ele sugeriu, por exemplo, um one‑stop‑shop para investidores de inteligência artificial: uma secretaria especial que facilite licenças ambientais e jurídicas em prazos curtos, com segurança para aportes em energia, data centers e mineração de terras raras.

Tallis lembra que o Brasil tem vantagens competitivas claras: 80%–85% da matriz energética limpa, reservas significativas de terras raras e uma infraestrutura que pode receber data centers. No G4, diz que a adoção de AI já impactou resultados: a empresa deve faturar R$ 500 milhões este ano e aumentou em sete pontos percentuais a margem de contribuição usando AI, além de ter 77 mil empresas clientes.

Ele defende ainda medidas administrativas e legais que reduzam a incerteza: licenças e proteção de dados claras, facilitação para investimentos estrangeiros e uma visão de longo prazo que transforme o Brasil em plataforma global para o ciclo da AI.

Resultados práticos e visão sobre empreendedorismo

Tallis afirma que o empreendedor deve avaliar energia e propósito: “Se você não acorda com vontade de fazer, talvez seja hora de buscar um sócio, ou um comprador”. Ele também cita números do impacto do G4: 756 mil empregos gerados diretamente por alunos desde que passaram pelos programas, com meta de chegar a um milhão.

Sobre vida pública e política, Tallis explica por que não se vê atuando diretamente na política partidária: defende que reformas duras exigiriam apoio amplo e que a lógica populista dificulta mudanças estruturais. No campo ético, critica a cultura do rentismo e defende incentivos à produção de emprego como caminho sustentável para desenvolvimento.

Reflexão cristã assinada por Leonardo de Paula Duarte

Como cristão e jornalista, vejo nesta fala um chamado à justiça e à responsabilidade. A discussão sobre tributos, transparência e parceria entre Estado e iniciativa privada toca princípios bíblicos de justiça, trabalho e boa gestão. Recordo as palavras que nos orientam a agir com diligência: “Façam o que fizerem de todo o coração, como se fosse para o Senhor, e não para as pessoas” (Colossenses 3:23, NTLH).

Essa passagem não é uma instrução técnica de economia, mas ajuda a moldar a atitude que esperamos de líderes e empreendedores: trabalhar com propósito, ética e serviço ao bem comum. No debate público, a fé pode contribuir com uma voz que pede equilíbrio entre proteção social e estímulo à iniciativa que gera emprego e valor.

Em termos práticos, a entrevista de Tallis Gomes amplia o debate sobre o custo real da tributação, a urgência de regras estáveis e o papel da liderança empresarial para recuperar produtividade e atrair investimentos. A proposta de facilitação para projetos de AI e terras raras é uma sugestão direta de política industrial que merece atenção técnica e política.

Leonardo de Paula Duarte

Rolar para cima