Influenciador afirma estar “desconectado” da política, mas critica líderes e defende renovação
Um ano após perder a eleição para a Prefeitura de São Paulo, o influenciador e empresário Pablo Marçal (PRTB) diz buscar distância da rotina eleitoral, mas segue respondendo a processos ligados à campanha de 2024.
Em entrevista no prédio de sua empresa em Alphaville, Marçal afirmou que o período da corrida eleitoral foi uma “guerra” e uma “loucura” e responsabilizou seu advogado, Tassio Renam Botelho, pela publicação de um laudo falsificado que acusava o ministro Guilherme Boulos de uso de drogas. Segundo a reportagem, “ambos foram denunciados pelo Ministério Público Eleitoral”.
Laudo falsificado e processo eleitoral
Marçal disse que não viu o documento e atribuiu a divulgação ao seu advogado: “Menos eu, eu estava num podcast quando a equipe postou. Até hoje eu não vi esse laudo. Acho que isso foi completamente desnecessário.”
Sobre a autoria, afirmou: “Quem do time que bancou isso aí, postou, que responda e se resolva com isso.” E indicou diretamente: “O advogado. O Tassio [Renam Botelho]? É.”
O texto da reportagem lembra que “No início do mês, o Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo reverteu uma das condenações de Marçal na primeira instância, que tratava da gravação remunerada de vídeos para candidatos, assim como a pena de inelegibilidade.” O tribunal ainda avaliará outras duas decisões; Marçal só será considerado inelegível se uma das sentenças for confirmada.
Posição sobre lideranças e 2026: outsider em vez de continuação
Marçal afirmou não se identificar com os presidenciáveis atuais e defendeu a chance de um nome externo: “Acho que, se sai uma pessoa diferente, que mostra um caminho que a gente ainda não seguiu e que não é apadrinhado de ninguém, tem chance de romper isso aí.”
Sobre o cenário da direita, ele foi direto: “A direita e a esquerda não têm dono, falta protagonista. Bolsonaro até me apoiaria, não me apoiou porque precisava do MDB e do [Michel] Temer para resolver esses processos aí.”
Quanto a Lula, Marçal fez avaliação dura e ambivalente: chamou o presidente de “a maior decepção de todos os tempos”, mas também o reconheceu como “o político mais influente da história”.
Distância pública, rede social e legado eleitoral
Marçal afirma estar “100% desconectado” da política: “Agora não. Estou focado na família, nos negócios.” Ainda assim, não descarta uma candidatura futura: “No tempo certo, se meu coração falar vai, eu vou.”
Ele também comentou o impacto pós-eleição nas redes: “Tem um ano caindo. Teve muita gente frustrada de não ganhar.” E afirmou que, quando viu o resultado das pesquisas se inverterem, decidiu voltar ao trabalho: “No mesmo minuto que eu vi o gráfico virando, eu virei e fui embora, vamos embora trabalhar.”
Dados públicos do perfil do candidato lembram que, na disputa de 2024, Marçal obteve 28% dos votos no primeiro turno em São Paulo.
O tom editorial e uma breve reflexão cristã — por Leonardo de Paula Duarte
Como colunista e cristão, vejo nesta entrevista sinais claros de uma tensão comum na vida pública: a rapidez do julgamento social e a fragilidade das estratégias quando ética e verificação de fatos são negligenciadas. Marçal admite que parte do episódio com o laudo foi “completamente desnecessário” e até afirma: “Nunca toquei. Nunca mais mexi com isso, é irrelevante para mim.” Essa confissão é importante para quem busca responsabilização.
Ao mesmo tempo, a busca por pacificação que o próprio Marçal enuncia — “Tinha que parar com esse auê, é muita confusão” — ressoa com um princípio bíblico de reconciliação. “Felizes os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus.” (Mateus 5:9, NTLH)
Não proponho simplificações ou perdões fáceis. A ética pública exige investigação e consequências quando houver irregularidades. Mas a fé também chama a atenção para a restauração e para a construção de lideranças com caráter. Em tempos de polarização, pedir seriedade e, ao mesmo tempo, misericórdia processual é um equilíbrio necessário.
Na esfera política, como na vida pessoal, liderança verdadeira combina competência, verdade e responsabilidade. Se a direita — ou qualquer grupo político — busca se renovar, isso passa por encorajar nomes que não apenas prometam ruptura, mas que tenham compromisso claro com fatos, transparência e serviço ao bem comum.
Leonardo de Paula Duarte é colunista do site e jornalista.

