Isenção do IR a partir de 2026 beneficiará até 19,7 milhões — maioria é classe média do interior que votou em Bolsonaro, diz estudo

Nova faixa de isenção atinge sobretudo trabalhadores formais do interior e da classe média

A nova faixa de isenção do IR (Imposto de Renda), promessa de campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), beneficiará majoritariamente brasileiros que vivem no interior do país, pertencem à classe média e votaram em Jair Bolsonaro (PL) no segundo turno da eleição de 2022.

O que muda e quem ganha

A medida isenta do IR quem ganha até R$ 5.000 mensais e reduz o imposto a pagar para quem recebe entre R$ 5.000,01 e R$ 7.350,00. As mudanças constam no projeto de lei 1.087/2025, já aprovado na Câmara e no Senado.

Segundo o estudo da consultoria 4intelligence, a estimativa é de que entre 17,9 milhões e 19,7 milhões de trabalhadores formais deixarão de pagar IR com a mudança que passa a valer a partir de 2026. A medida será sancionada por Lula nesta quarta-feira (26).

Metodologia e alcance geográfico

A metodologia combina os dados de remuneração média da Rais (Relação Anual de Informações Sociais) de 2023 com o saldo de empregos do novo Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) entre janeiro de 2024 e setembro de 2025.

O estudo mostra que a maior parte dos beneficiados mora fora das capitais e vive no centro-sul brasileiro. Em números totais, 66% dos beneficiados, cerca de 13 milhões de pessoas, estão em municípios onde Lula perdeu. Apenas 34% estão em localidades onde o petista saiu vitorioso.

Estados com maior proporção de trabalhadores formais beneficiados: Santa Catarina (42,2%), Rio Grande do Sul (40,4%), Paraná (39,4%), Mato Grosso (38,7%), São Paulo (38,6%) e Mato Grosso do Sul (35,1%).

Estados com maior número absoluto de beneficiados: São Paulo (6,3 milhões), Minas Gerais (1,9 milhão), Paraná (1,5 milhão), Rio de Janeiro (1,4 milhão), Rio Grande do Sul (1,3 milhão) e Santa Catarina (1,2 milhão).

Cenário político e reações de especialistas

É o que mostra estudo da consultoria 4intelligence, que cruzou dados do Ministério do Trabalho e Emprego com informações da Justiça Eleitoral, com o objetivo de estimar quantas pessoas devem ser favorecidas pela nova política, onde elas estão e como votaram nas últimas eleições presidenciais.

O economista Bruno Imaizumi, da 4intelligence, observa que a medida acerta ao ampliar renda disponível, mas alerta para o impacto da polarização: “Políticas que reduzem impostos e ampliam a renda disponível e o poder de compra para parte significativa da população tendem a favorecer o governante que as adota. Por outro lado, uma parcela desses eleitores de classe média, moradores do interior e que votaram em Bolsonaro em 2022 podem, apesar de beneficiados pela isenção do IR, se manter no campo político antipetista por causa da cristalização de posturas ideológicas mais próximas à direita e à centro-direita”.

Ao analisar apenas as capitais, a correlação entre benefício e voto desaparece. São 6,3 milhões de trabalhadores contemplados nas capitais — sendo 1,9 milhão só na cidade de São Paulo e 732 mil no Rio de Janeiro. Proporcionalmente, Porto Alegre (36,1%), Curitiba (35,3%), São Paulo (34,9%) e Manaus (34,3%) lideram.

A cientista política Karla Gobo, da ESPM, ressalta que “Será preciso observar se a ampliação da faixa de isenção produzirá efeitos eleitorais mais significativos nessas localidades ou se outras agendas, como é o caso da segurança pública nos últimos meses, acabarão predominando na formação das preferências políticas desses eleitores”.

Impactos práticos e limites da leitura política

Na prática, milhões de brasileiros terão mais renda disponível a partir de 2026. Porém, o efeito eleitoral não é automático: fatores regionais, a intensidade da polarização e outras pautas (como segurança pública) podem neutralizar ganhos de popularidade derivados da medida.

O projeto também prevê regras complementares, como a criação de um imposto mínimo para alguns contribuintes de alta renda (renda anual superior a R$ 600 mil), o que mostra a preocupação em equilibrar renúncia fiscal e arrecadação.

Reflexão editorial — Leonardo de Paula Duarte

Do ponto de vista cristão, políticas públicas que aliviem o ônus sobre trabalhadores e ampliem oportunidades econômicas dialogam com princípios de justiça e cuidado pelo próximo. A fé nos lembra que não vivemos isolados: Ame o seu próximo como a si mesmo. (Mateus 22:39, NTLH)

Ao mesmo tempo, a tradição cristã pede prudência: boas intenções devem vir acompanhadas de transparência, responsabilidade fiscal e diálogo para que o benefício alcance os que mais precisam e não aprofunde desigualdades regionais.

— Leonardo de Paula Duarte

Fontes: estudo da consultoria 4intelligence, dados da RAIS e CAGED, reportagem FOLHAPRESS.

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