Cargas que nunca existiram: esquema em Blumenau gerou prejuízo de R$ 3 milhões e registrou até 59 viagens falsas

Operação “Carga Oca” revela esquema de simulação de entregas em contratos da Seurb

Uma investigação que começou há cerca de um ano resultou na Operação “Carga Oca”, que expôs como um esquema milionário de simulação de entregas operou em Blumenau entre 2022 e 2024. A fraude, segundo apuração técnica, gerou um prejuízo estimado em R$ 3 milhões — valor que pode aumentar com o avanço das diligências.

Como funcionava a fraude

Relatos e imagens de câmeras de segurança mostraram que caminhões constavam nos registros como se tivessem feito dezenas de viagens, mas circulavam vazios. Em um caso emblemático, um caminhão chegou a ter registradas 57 a 59 cargas em um sábado, algo humanamente inviável.

Ao rastrear a placa do veículo, os investigadores constataram que ele sequer estava em Blumenau naquele dia: encontrava-se em Pomerode, o que comprova a impossibilidade das viagens.

Mandados, apreensões e medidas

A operação desta quarta-feira (26) cumpriu 16 mandados de busca e apreensão em residências de investigados, na antiga sede da Seurb e em empresas relacionadas, localizadas em Blumenau, Gaspar, Brusque e Pomerode.

Foram apreendidos 50 mil dólares e R$ 80 mil em dinheiro vivo. Dois servidores públicos, ambos fiscais, foram afastados de suas funções, e os dois contratos ainda vigentes com as empresas investigadas foram suspensos. Ao todo, duas empresas são formalmente alvo da apuração.

Provas e próximos passos da investigação

O próprio município realizou uma auditoria independente que também identificou pagamentos por cargas de macadame que nunca chegaram ao destino. “Pagou-se por material que não foi entregue“, afirmou o Promotor de Justiça Marcionei Mendes em entrevista ao ND Mais.

Com o material recolhido, o GAECO fará a análise completa da documentação, que será encaminhada ao Ministério Público. A partir disso, o promotor deve ingressar com ação penal para apurar a responsabilidade dos envolvidos e, posteriormente, com ação civil pública para reparação de danos.

Segundo Mendes, as penas podem levar, inclusive, à prisão dos envolvidos, caso haja condenação.

Contexto e implicações para o serviço público

O caso levanta questões sobre fiscalização, controle de contratos e transparência na gestão de serviços públicos. Pagamentos por entregas que não ocorreram representam não apenas prejuízo financeiro, mas perda de confiança da população em fornecedores e em órgãos responsáveis pela contratação e fiscalização.

Investigações como essa mostram a importância de auditorias independentes e do cruzamento de registros físicos (imagens, rastreamento de veículos) com notas fiscais e ordens de serviço.

Reflexão cristã — responsabilidade e transparência

Como colunista, acompanho notícias como esta atento não só aos fatos, mas ao chamado ético que elas trazem. A gestão de recursos públicos exige integridade; quando falha, pessoas e comunidades sofrem. Vale lembrar: “De quem muito foi dado, muito será exigido; e de quem muito foi confiado, muito mais será pedido.” (Lc 12:48, NTLH).

Essa tragédia administrativa é também um convite à ação responsável: exigir transparência, apoiar investigações rigorosas e cultivar integridade pessoal e coletiva. A fé nos chama a defender a justiça, sem radicalismos, buscando reparação e prevenção.

Seguindo os princípios jornalísticos, a matéria se baseia exclusivamente nas informações fornecidas pelas fontes oficiais da investigação, incluindo declarações do Promotor Marcionei Mendes e relatórios de auditoria municipal.

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