Crise institucional: o recado das ausências e os temas que podem travar
A ausência dos presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), no ato de sanção da isenção do Imposto de Renda, nesta quarta (26), cristalizou uma tensão que já vinha se formando entre o Congresso e o governo e agora ameaça pautas centrais do Executivo.
Parlamentares ouvidos nos bastidores citam como vulneráveis a elaboração do Orçamento de 2026, a tramitação da PEC da Segurança Pública e a aprovação da indicação de Jorge Messias ao Supremo Tribunal Federal (STF). Nesta quinta (27), Alcolumbre marcou sessão do Congresso para analisar vetos presidenciais e, segundo expectativas, o Palácio do Planalto pode sofrer nova derrota.
Ausências simbólicas e recados políticos
As faltas de Motta e Alcolumbre no ato de sanção foram interpretadas como gesto político de distanciamento. Motta, que já foi descrito como um dos principais fiadores de Lula no Legislativo, rompeu com o Planalto após a indicação de Messias para o STF, em vez do senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
Alcolumbre, por sua vez, tem procurado senadores para defender a rejeição ao indicado e aprovou no Senado projeto de impacto bilionário — aposentadoria especial para agentes comunitários de saúde e de combate a endemias — como sinal de insatisfação.
O relatório geral da crise contém queixas práticas: atraso na execução de emendas parlamentares, demora em nomeações e percepção de acordos não cumpridos. O grupo de Motta também acusa o governo de incentivar ataques públicos à Câmara por meio de ministros e da comunicação.
Pautas em risco: Orçamento 2026, PEC da Segurança e Messias
O Orçamento de 2026 é a principal preocupação do Congresso: definirá gastos e programas no ano eleitoral. Sem sintonia com a Mesa, o Executivo pode ver prioridades revistas ou bloqueadas.
Na segurança, o projeto antifacção — considerado aposta do governo para avançar na agenda da área — teve relatoria entregue a um nome de oposição, Guilherme Derrite (PP-SP), o que ampliou o ruído com o Palácio. Petistas dizem que Motta teria dito que o rompimento “era com o líder do PT, não com a bancada e tampouco com o governo”.
Sobre a indicação ao STF, Alcolumbre foi enfático em articular resistência e a tensão continuará até a votação. Governistas tratam o tema com tentativa de conciliação: afirmam que Lula deve procurar Alcolumbre antes da votação porque “nenhum dos dois ganha com um rompimento”.
Direita, anistia e perda de força bolsonarista
A prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro recuou da prioridade política no Congresso. A reação da direita tem sido descrita como tímida: poucos senadores defenderam o ex-presidente na tribuna e atos de grande impacto não se repetiram.
O líder do PL na Câmara, deputado Sóstenes Cavalcante (RJ), resumiu o impasse sobre a anistia: o partido quer anistia completa, enquanto Motta só aceita levar ao plenário uma proposta restrita à redução de penas. “Talvez seja a hora de se trabalhar com mais estratégia e menos radicalidade”, disse o deputado.
Em discurso, um integrante do grupo bolsonarista afirmou: “Estamos reagindo à prisão dele desde julho. É que a prisão do [ex-]presidente não foi uma prisão comum, igual à do Lula, que inclusive deram um espetáculo eleitoral. A prisão de Bolsonaro foi feita com morfina, a passos lentos, de tortura.”
Caminhos e riscos: o que o governo pode fazer
Do lado governista, há receio de que a crispação impeça tramitações rápidas de medidas necessárias para fechar as contas, como o corte de quase R$ 20 bilhões em subsídios tributários e a aprovação de MPs estratégicas, por exemplo a que estimula data centers no Brasil — medida que a cúpula da Câmara ameaçou dificultar.
Conselheiros de Lula defendem distensão e maior diálogo do presidente com parlamentares. Auxiliares lembram, porém, que decisões de líderes como Motta têm custo político e são usadas para construir bloco de sustentação: Motta organizou um grupo parlamentar com 275 deputados — maioria da Casa — capaz de aprovar requerimentos e pautas sem depender da esquerda ou da direita.
O cenário é de incerteza: se a tensão persistir, o governo corre o risco de derrotas parlamentares em votações decisivas e de ter sua agenda legislativa parcialmente travada nas vésperas do ano eleitoral.
Reflexão cristã
Em momentos de polarização e desgaste institucional, cabe a lembrança serena de princípios que edificam convivência pública. Como diz a Escritura: “Felizes os que trabalham pela paz, pois serão chamados filhos de Deus.” (Mt 5:9, NTLH) A política é arena de disputas legítimas, mas a busca por soluções duradouras passa pelo diálogo e pela responsabilidade com o bem comum.
Seja qual for o desfecho das próximas semanas, é importante que líderes e cidadãos priorizem a transparência, o compromisso com as instituições e a proteção dos serviços públicos que afetam a vida de milhões.
Coluna assinada por Leonardo de Paula Duarte.

