Empreendedores transformam sazonalidade em negócio, e Câmara discute regras
No Rio de Janeiro, o aluguel de curta duração deixou de ser apenas uma renda extra e se consolidou como setor econômico relevante — com empresas que administram centenas de imóveis, cadeias operacionais próprias e um conflito crescente com a hotelaria tradicional.
De colchão improvisado a empresa com 150 funcionários
Omar Farhat começou em 2013 oferecendo um colchão improvisado para ajudar a mãe a quitar uma dívida. Do que era uma alternativa surgiu uma operação formal: a Omar do Rio, que hoje administra cerca de 380 imóveis e tem a projeção de chegar a 400 até o fim do ano.
Sobre a transição para um modelo profissional, Omar resume o papel da administradora: “A gente representa o proprietário. Problemas podem acontecer. Pode queimar uma geladeira, pode ter uma intercorrência no ar-condicionado. A gente existe para dar o suporte durante a locação”. E acrescenta: “E a gente faz todo o trabalho de limpeza, de manutenção, também. A gente construiu, por exemplo, uma lavanderia própria para atender a essa demanda”.
Modelos e números: plataformas, administradoras e crescimento anual
Empreendedores têm aproveitado plataformas como Airbnb e Booking para escalar operações. Segundo Marcio Milech, diretor jurídico da ABLT, “A locação por temporada veio para ficar, assim como o iFood e outras empresas da economia disruptiva”.
O Secovi Rio estima que a oferta de imóveis para temporada na cidade cresceu para cerca de 25 mil unidades em março de 2025, número que representa um avanço de 18,1% em relação a abril do ano anterior (21,2 mil). Leonardo Schneider, vice‑presidente do Secovi Rio, destaca os fatores de demanda: “O Rio tem os picos do Réveillon e do Carnaval, fora outros grandes eventos, shows e feriados. Isso atrai [demanda]. Os números são crescentes”.
Em paralelo, indicadores macro mostram pressões no mercado imobiliário local: o Ivar (Índice de Variação de Aluguéis Residenciais) acumulou inflação de 8,45% nos 12 meses até outubro no município do Rio, acima da média nacional (5,58%) e de outras capitais como São Paulo (3,99%). O levantamento não separa causas, mas insere o crescimento das locações por temporada no contexto de debate sobre oferta e preços.
Conflito com hotéis e pedido de regulação
O crescimento do setor encontrou resistência da hotelaria e de moradores. A proposta de regulamentação foi debatida em audiência pública na Câmara Municipal e ainda não teve desfecho.
Alfredo Lopes, presidente do HotéisRIO, diz que os estabelecimentos não são contrários ao aluguel de curta duração, mas defendem “alguma regulação”. Ele ressalta preocupações práticas: “Se o proprietário não toma o cuidado devido com o imóvel, ou se o hóspede tem um problema de discussão com moradores do prédio, o turista sai da cidade com uma experiência ruim. Tem que ter alguma regulação. É por isso que a gente vem lutando”.
Do outro lado, administradoras e associações que representam locadores argumentam que mercados distintos podem conviver. Marcio Milech afirma que são setores paralelos: “São mercados que correm em paralelo, com características totalmente diferentes”.
Impacto econômico e argumentos das plataformas
O Airbnb, em nota à reportagem, afirmou que “acompanha de perto as discussões dos vereadores, afirmou ter histórico de trabalho com governos de todo o mundo e apontou que a locação de temporada já é regulada pela Lei do Inquilinato na esfera federal”. A empresa também alertou que “Proibir essa locação viola o direito de propriedade de quem aluga seu imóvel”.
Em dados divulgados pela própria plataforma com base em estudo da FGV, as operações do Airbnb teriam gerado R$ 2,9 bilhões em renda adicional para negócios locais no Rio — do garçom em Ipanema ao motorista que leva turistas ao Cristo. “Quando uma reserva é feita em Copacabana, Lapa ou Jacarepaguá, o efeito se espalha por diferentes bairros da cidade”, afirmou a empresa.
Para executivos de administradoras, a atividade também cria empregos e serviços: além de limpeza e manutenção, muitas empresas passaram a cuidar de logística, suporte ao hóspede e gestão financeira — funções que formalizam uma cadeia de valor local.
Reflexão cristã e ética sobre propriedade e comunidade
Como colunista e cristão, observo que a questão envolve direitos individuais e bem‑estar coletivo. Há valor em iniciativas que geram trabalho e renda, e há também responsabilidade para com vizinhos, condomínios e a cidade.
Uma orientação bíblica que inspira equilíbrio é prática e ética: “Tudo o que fizerem, façam de todo o coração” (Colossenses 3:23 NTLH). Aplicada aqui, sugere que quem investe em hospedagem tem o dever de cuidar bem do imóvel, atender hóspedes com respeito e minimizar impactos na comunidade.
Minha recomendação editorial é que a regulamentação busque transparência tributária, critérios claros para convívio em condomínios e mecanismos de responsabilização que preservem turismo e moradia. Assim é possível conciliar inovação, geração de renda e paz comunitária.
Leonardo de Paula Duarte é colunista e editor do site. Escreve sobre economia, cidades e ética pública.
Dados e declarações nesta reportagem foram retirados de trechos fornecidos pela Folha de S.Paulo (reportagem publicada em formato resumido) e de comunicações públicas de associações e plataformas citadas.

