Dados do EGASP apontam crescimento da resistência e lacunas na vigilância global
Um relatório da OMS divulgado durante a Semana Mundial de Conscientização sobre a Resistência Antimicrobiana mostra que a gonorreia está se tornando cada vez mais resistente a antibióticos. Entre 2022 e 2024, a resistência à ceftriaxona — um dos principais antibióticos usados para tratar a IST — aumentou de 0,8% para 5%, enquanto a resistência à cefixima subiu de 1,7% para 11%.
O que o relatório revela
O Programa Ampliado de Vigilância Antimicrobiana da Gonorreia (EGASP) coleta dados laboratoriais e clínicos em países de cinco regiões do mundo para monitorar a resistência medicamentosa e orientar diretrizes de tratamento. Em 2024, o EGASP recebeu dados de 12 países — Brasil, Camboja, Índia, Indonésia, Malawi, Filipinas, Catar, África do Sul, Suécia, Tailândia, Uganda e Vietnã — que reportaram um total de 3.615 casos de gonorreia. Em 2022, apenas quatro países tinham enviado informações, o que mostra avanço na participação, segundo a OMS.
A resistência à azitromicina permaneceu estável em 4%. O relatório destaca que Camboja e Vietnã registraram as maiores taxas de resistência.
Onde a doença cresce e quem é afetado
Mais da metade dos casos sintomáticos em homens (52%) ocorreu na região denominada Pacífico Ocidental pela OMS, com destaque para as Filipinas (28%), Vietnã (12%), Camboja (9%) e Indonésia (3%). Em seguida vêm a região Africana (28%), o Sudeste Asiático (13%, com destaque para a Tailândia), o Mediterrâneo Oriental (4%, especialmente o Catar) e as Américas (2%, com destaque para o Brasil).
A idade média dos pacientes foi de 27 anos (variação entre 12 e 94 anos). Entre os infectados, 20% eram homens que fazem sexo com homens e 42% relataram múltiplos parceiros nos últimos 30 dias.
Limitações, riscos e apelo da OMS
A OMS aponta que o EGASP ainda tem recursos financeiros insuficientes e relatórios incompletos. Há falta de dados sobre mulheres e sobre infecções em locais fora dos órgãos genitais, o que limita a visão completa da disseminação e da resistência.
O relatório enfatiza a necessidade de “investimento imediato, especialmente nos sistemas nacionais de vigilância, para manter e ampliar o monitoramento global da resistência da gonorreia aos antibióticos, melhorar a capacidade de diagnóstico e garantir acesso equitativo a novos tratamentos para ISTs.”
Sobre a importância do esforço conjunto, a diretora do departamento de HIV, Tuberculose, Hepatite e ISTs da OMS afirmou: “Este esforço global é essencial para rastrear, prevenir e responder à gonorreia resistente a medicamentos e para proteger a saúde pública em todo o mundo”.
A OMS também reforça o pedido aos países: “A OMS apela a todos os países para que abordem os níveis crescentes de ISTs e integrem a vigilância da gonorreia nos programas nacionais de combate”.
O que isso significa para o Brasil e para o cidadão
Embora as Américas tenham representado 2% dos casos reportados ao EGASP em 2024, o aumento global da resistência indica risco de tratamentos menos eficazes, necessidade de protocolos atualizados e maior ênfase em prevenção, diagnóstico e acesso a terapias alternativas.
Medidas simples permanecem essenciais: usar preservativo, buscar diagnóstico ao notar sintomas, informar parceiros e seguir orientações médicas. Ao nível de sistema de saúde, é preciso ampliar a vigilância, investir em laboratórios e garantir que novas terapias cheguem a quem precisa.
Reflexão cristã
Como colunista e cristão, registro aqui uma reflexão prática: diante de desafios de saúde pública, a fé inspira cuidado, serviço e responsabilidade comunitária. A fé não substitui a ciência, mas fortalece o compromisso com o próximo — cuidando da prevenção, apoiando pessoas doentes e promovendo políticas públicas justas.
Nas palavras das Escrituras encontramos uma orientação para agir com esperança e perseverança: “Alegrem-se na esperança, sejam pacientes na tribulação, perseverem na oração.” (Romanos 12:12, NTLH).
Que possamos conjugar conhecimento técnico, solidariedade e políticas públicas eficazes para enfrentar a ameaça crescente da resistência bacteriana.
— Leonardo de Paula Duarte

