Indústria de SC exige urgência nas negociações com os EUA: 25% das exportações ainda sofrem taxação e 212 itens em debate

Fiesc pede solução rápida para taxação americana e mobiliza agenda interna de infraestrutura e mão de obra

A indústria de Santa Catarina atravessa um momento de tensão: embora os Estados Unidos tenham retirado impostos para 212 itens, o avanço foi considerado insuficiente para o perfil produtivo do Estado.

O ponto central das negociações

Em entrevista ao Grupo ND, o presidente da Fiesc, Gilberto Seleme, disse que o progresso na retirada de tarifas foi “pouco” e “insuficiente” para a realidade catarinense. Segundo ele, a isenção concentrou-se em produtos primários — itens não manufaturados — e isso não atende à matriz industrial de Santa Catarina.

Como afirmou Seleme, “O que os Estados Unidos fizeram foi tirar todo o tributo dos produtos primários. Seria produto não manufaturado, não é produto que Santa Catarina produz tanto, nós temos uma indústria pujante, uma indústria de transformação que são valores agregados”.

Ele ressalta que cerca de 25% da exportação brasileira ainda está sujeita à taxação dos Estados Unidos, o que atinge diretamente setores de maior valor agregado.

Setores mais afetados e riscos de adaptação

A Fiesc aponta que os setores mais prejudicados são o de motores, parte elétrica, metal mecânica e, especialmente, o de móveis e madeira. Seleme reforça a preocupação com a capacidade de resposta das empresas: “Nós estamos tentando que alguns produtos também entrem na lista de exceções. Porque senão a indústria não vai suportar”.

Trocar de mercado ou de produto, lembra o presidente da federação, exige tempo, maquinário e tecnologia — investimentos que não podem ser feitos da noite para o dia. Por isso a Fiesc pede que as negociações com os Estados Unidos sejam concluídas com urgência: empresários estão “muito tensos”.

A federação projeta uma data-limite para resolução do tema: medidas que reduzam a taxação para patamares como 20% ou 15%, e que o assunto seja resolvido até, no máximo, março do próximo ano. Há receio de que, se as discussões se estenderem para o calendário eleitoral, “Se ela passar, chegar até abril, daí vira massa de manobra. Para tudo”.

Obstáculos internos: juros, infraestrutura e mão de obra

Além do impasse internacional, a Fiesc aponta dois grandes entraves internos que travam investimentos: a alta taxa de juros e a segurança jurídica. A taxa de juros elevada desestimula a compra de maquinário, porque o custo do capital torna o investimento menos atraente.

Na infraestrutura, Seleme faz um diagnóstico crítico: “O Estado não está crescendo como a indústria está crescendo. A infraestrutura nossa não está acompanhando a indústria. A indústria cresce mais do que o Estado está crescendo. Isso aí está dando gargalo logístico, vários gargalos de educação e de mobilidade, principalmente”. Entre os exemplos práticos está a rodovia BR-101, que não tem mais horário para congestionamentos, segundo o dirigente.

Para enfrentar a falta de mão de obra qualificada, a Fiesc participa de iniciativas locais. Um exemplo citado por Seleme é o programa Porta Aberta, que requalifica profissionais estrangeiros — de países como Venezuela e Haiti — oferecendo apoio psicológico, familiar e escolar para os filhos. O projeto-piloto em São Miguel do Oeste já mostra resultados e conta com empresas cuja força de trabalho pode chegar a 40% de estrangeiros.

Tom técnico na diplomacia e apelo por gestão

Sobre a estratégia com o governo americano, Seleme defende discrição e foco técnico: “Se eu falei mal de você, como é que eu vou pedir para você me ajudar?” — argumento usado para pedir que a diplomacia brasileira evite desgastes políticos que possam prejudicar a atuação dos negociadores comerciais.

O presidente da Fiesc também pediu um “choque de gestão” para que o crescimento industrial do Estado não pare.

Reflexão cristã e apelo à responsabilidade

Como colunista e cristão, vejo nessa conjuntura um chamado à seriedade no serviço público e à responsabilidade dos líderes empresariais. A urgência nas negociações, somada à necessidade de melhorias internas, exige que todos atuem com diligência e integridade.

Recordo uma orientação bíblica que toca a ética do trabalho: “Tudo o que fizerem, façam de todo o coração, como para o Senhor, e não para as pessoas.” (Colossenses 3:23, NTLH) Essa postura pede preparo, zelo e foco no bem comum — princípios úteis para gestores e negociadores.

Se a indústria catarinense precisa de agilidade nas negociações externas, também precisa de compromisso doméstico com infraestrutura, educação e políticas públicas que reduzam riscos e tornem os investimentos viáveis.

Leonardo de Paula Duarte

Fonte: entrevista exclusiva de Gilberto Seleme ao Grupo ND (trechos citados).

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