Milhares de mulheres tomam as ruas contra a violência de gênero; 1.492 feminicídios em 2024 e alta de 71% em SP

Protestos exigem políticas e proteção após casos que chocaram o país

Milhares de mulheres saíram às ruas neste domingo em várias cidades brasileiras para denunciar a escalada da violência de gênero e cobrar ação do poder público. A mobilização ganhou força após crimes recentes que tiveram ampla repercussão nacional e reacenderam o debate sobre segurança, cultura do machismo e impunidade.

Os atos ocorreram no Rio de Janeiro, em São Paulo, em Florianópolis e em outras capitais. No calçadão de Copacabana, manifestantes exibiam cartazes pedindo o fim do feminicídio, do estupro e da misoginia.

Entre as manifestantes estava Aline Pedrotti, irmã de Alline de Souza Pedrotti, funcionária de uma escola no Rio assassinada em 28 de novembro por um colega de trabalho. O crime chocou a comunidade escolar. “Estou devastada, mas lutando contra a dor. Quero mudanças na legislação e novos protocolos para evitar que isso aconteça de novo”, disse Aline à Associated Press.

Casos que impulsionaram as manifestações

Em São Paulo, o episódio que mobilizou muita gente foi o ataque contra Taynara Souza Santos, de 31 anos, que foi atropelada e arrastada por mais de um quilômetro pelo ex-namorado na Marginal Tietê. A violência extrema resultou na amputação das pernas da jovem e o vídeo do crime gerou indignação nas redes sociais.

Em Florianópolis, outro crime recente abalou a cidade: a professora de inglês Catarina Kasten foi estuprada e estrangulada enquanto caminhava rumo a uma aula de natação, em 21 de novembro. Esses casos reforçaram a sensação de urgência entre as manifestantes.

Esses casos foram a gota d’água”, afirmou Isabela Pontes, que protestava na Avenida Paulista.

Dados e panorama nacional

Relatórios oficiais mostram que a violência contra mulheres segue em alta. O relatório 2025 do Fórum Brasileiro de Segurança Pública aponta que mais de um terço das brasileiras sofreu algum tipo de violência sexual ou de gênero no último ano, o maior índice desde 2017.

Em 2024, foram registrados 1.492 feminicídios, número recorde desde a criação da lei que tipifica o crime, em 2015.

Na esfera municipal, levantamento do Instituto Sou da Paz mostra que a capital paulista foi o cenário de 1 a cada 4 feminicídios consumados no estado. Na comparação dos dez primeiros meses de 2025 com o mesmo período do ano passado, a alta é de 23% na cidade. Em relação a 2023, o crescimento foi de 71%.

Para especialistas, a gravidade e a crueldade dos ataques são sinais de uma reação violenta a avanços sociais. Segundo Juliana Martins, especialista em violência de gênero e diretora de relações institucionais do Fórum, transformações sociais que ampliam direitos e representatividade feminina “geram respostas violentas que buscam forçar a subordinação das mulheres”.

Demandas das ruas e repercussão

Nas manifestações, as vozes pedem:

— Mudanças legislativas para aumentar a proteção às vítimas e agilizar investigações;

— Protocolos de segurança em ambientes de trabalho e educacionais para prevenir assédios e agressões;

— Políticas públicas integradas que articulem prevenção, acolhimento, atendimento psicológico e acesso à justiça;

— Responsabilização efetiva dos agressores e combate à cultura que naturaliza a violência.

Organizações da sociedade civil e especialistas enfatizam que a violência de gênero não é apenas uma questão de segurança pública, mas também de saúde pública e direitos humanos.

Reflexão cristã e convite à ação — por Leonardo de Paula Duarte

Como cristão e jornalista, vejo nas ruas um clamor legítimo por justiça e cuidado. A fé nos lembra que o amor e o respeito são exigências práticas. Jesus deu um mandamento claro: “Dou a vocês um novo mandamento: amem-se uns aos outros. Assim como eu os amei, vocês devem amar-se uns aos outros” (João 13:34, NTLH).

Isso não substitui responsabilidade civil e políticas públicas, mas aponta para um compromisso social: construir comunidades que protejam os vulneráveis e não naturalizem a violência. A esperança cristã nos chama a solidariedade ativa — apoiar vítimas, exigir reformas e trabalhar por uma cultura que respeite a dignidade humana.

Leonardo de Paula Duarte

© Lusa

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