Entenda, em linguagem prática, as vantagens, desvantagens e cuidados antes de aplicar em previdência privada
A previdência privada é uma alternativa comum para quem quer complementar a aposentadoria, planejar sucessão ou constituir reserva para objetivos longos. Analistas ressaltam benefícios fiscais e facilidade no planejamento sucessório, mas também alertam para custos, riscos e mudanças tributárias recentes.
1. Por que investidores escolhem previdência privada
Para especialistas, “os benefícios fiscais são a principal vantagem para quem tem a possibilidade de manter o investimento no longo prazo”, já que, com a tabela regressiva, é possível pagar alíquota de 10% no IR após dez anos — menor que a tributação mínima de 15% de investimentos como CDB e Tesouro Direto.
Além disso, a previdência é usada em planejamento sucessório. Como observa Stefano Tremea, “a previdência é uma opção válida para quem faz planejamento sucessório”; fundos de previdência do tipo VGBL e PGBL não são sujeitos ao ITCMD, segundo decisões referendadas pelo STF.
2. Previdência fechada x aberta: qual a diferença?
A previdência fechada (fundos de pensão) beneficia categorias ou empregados de empresas específicas — exemplos: Previ, Funcef e Petros. Segundo a Previc, esses fundos somavam R$ 1,4 trilhão em reservas previdenciárias em setembro de 2025.
Já a previdência aberta é comercializada por bancos e seguradoras e pode ser contratada por qualquer pessoa. Conforme a Susep, os planos abertos em formato VGBL somavam R$ 1,4 trilhão em agosto de 2025; as contribuições no ano foram R$ 7,7 bilhões (PGBL) e R$ 89,3 bilhões (VGBL).
3. PGBL x VGBL: como escolher
Entre as previdências abertas, o investidor precisa optar por PGBL ou VGBL. “O PGBL é opção para complementar a renda nas aposentadorias e costuma ser adotado por quem opta pelo modelo completo da declaração de Imposto de Renda”, porque permite deduzir até 12% da renda tributável anual.
Já o VGBL não permite essa dedução e é indicado para quem usa o modelo simplificado. Outra diferença prática: no PGBL o IR incide sobre o valor total; no VGBL, incide apenas sobre os rendimentos.
4. Tributação: progressiva, regressiva e o impacto do IOF
Desde 2024 o investidor pode escolher, no momento do resgate, a tabela mais vantajosa entre progressiva e regressiva. Na progressiva, há retenção de 15% na fonte como antecipação; a alíquota final pode chegar a 27,5%.
Na regressiva, “a alíquota diminui conforme o tempo de investimento: começa em 35% para aplicações de até dois anos e chega a 10% para prazos acima de dez anos” — motivo pelo qual o produto é mais atraente para investimentos de longo prazo.
Uma mudança relevante é o aumento do IOF: aportes acima de R$ 600 mil (ou R$ 50 mil por mês) em VGBL pagarão 5% de IOF sobre o valor excedente em 2026; entre 11 de junho e 31 de dezembro de 2025, o limite era R$ 300 mil por seguradora. Especialistas indicam que a medida afeta principalmente grandes aportes e pode levar investidores a escalonar entradas.
5. Resgates, formatos de renda e regras práticas
A previdência tem fase de acumulação e de usufruto. O participante faz aportes sem frequência mínima obrigatória e, quando decidir usufruir, pode optar por resgates esporádicos ou converter o saldo em renda: renda vitalícia, renda vitalícia com reversão ao beneficiário ou renda temporária.
Também há regras operacionais, como a permissão de resgates geralmente a cada 60 dias, o que influencia liquidez para quem planeja usar o dinheiro em curto prazo.
6. Taxas e comparação de rentabilidade
A taxa de administração incide sobre o capital total, incluindo rendimentos. Stefano Tremea recomenda evitar planos com taxas acima de 2% para renda fixa; o ideal, segundo ele, é procurar taxas entre 0,3% e 0,5% ao ano. Antônio Sanches sugere comparar a previdência com fundos semelhantes para avaliar se a taxa compensa a performance.
7. Riscos: desproteção pelo FGC e tributação no curto prazo
A previdência privada não é coberta pelo FGC. Se a seguradora falir, o investimento pode ser perdido — ao contrário de CDBs cobertos pelo Fundo Garantidor de Créditos (até R$ 250 mil por CPF/CNPJ). Além disso, quem rescata em menos de dois anos na tabela regressiva pode pagar IR de 35%.
8. Portabilidade e sucessão: vantagens práticas
Entre os benefícios práticos, a portabilidade permite transferir o plano entre instituições sem resgatar e pagar IR. Na sucessão, a previdência privada facilita a transferência de recursos: segundo especialistas, a aplicação não entra em inventário e os beneficiários podem ter liquidez mais rápida — “os familiares do falecido se beneficiam de liquidez mais rápida, com a liberação dos valores em alguns dias após a apresentação da documentação”.
9. Erros comuns ao contratar
Erros frequentes: não checar a solidez da seguradora; aceitar taxas altas; contratar um fundo incompatível com o perfil de risco (por exemplo, um conservador em plano que investe em ações); guardar dinheiro sem objetivo; e confundir reserva de emergência com previdência privada, que é “cara no curto prazo”.
Victor Bernardes alerta: “Você vai fazer o que com esse dinheiro? É para custear a saúde, viajar, não dar trabalho para os filhos? Quando você dá nome, fica mais difícil de gastar.”
10. Previdência substitui o INSS?
Não. Analistas concordam que a previdência privada é complemento e não substituto do INSS. A seguridade social oferece benefícios como auxílio-doença, salário-maternidade e auxílio-acidente. A previdência pode permitir resgates mais flexíveis, mas o acesso à aposentadoria pública depende de tempo de contribuição e idade.
11. Como decidir: checklist rápido
– Defina objetivo (aposentadoria, sucessão, educação).
– Verifique solidez da seguradora e histórico do fundo.
– Compare taxas e rentabilidade com fundos similares.
– Escolha PGBL se usa declaração completa e quer deduzir até 12% da renda tributável; escolha VGBL se usa simplificado.
– Considere horizontes longos para aproveitar a tabela regressiva e evitar alíquotas elevadas no curto prazo.
– Se vai aplicar valores muito altos, avalie o impacto do IOF e planeje entradas escalonadas.
Reflexão prática — Leonardo de Paula Duarte
Planejar financeiramente é também um ato de responsabilidade com a família e com o futuro. Como lembra a Bíblia ao aconselhar sobre planejamento, é sensato calcular custos antes de construir (Lucas 14:28 NTLH): “Qual de vocês, se quiser construir uma torre, não se senta primeiro e calcula quanto vai custar, para ver se tem dinheiro suficiente para terminá-la?”.
Em termos práticos: alinhe objetivos, horizonte e perfil de risco. A previdência privada pode ser uma ferramenta valiosa — desde que usada com propósito, cuidado e prudência.

