Chuva, aplausos no auditório e ausência nos bastidores
Sob chuva forte na manhã desta terça-feira (2), Alexandre de Moraes subiu ao palco do 19º Encontro Nacional do Poder Judiciário, em Florianópolis (SC), para seu primeiro discurso em solo catarinense desde o trânsito em julgado do processo que condenou Jair Bolsonaro (PL) por tentativa de golpe de Estado.
A visita ocorre dez dias após a prisão preventiva do ex-presidente — um simbolismo que não passou despercebido em um estado historicamente alinhado ao bolsonarismo. Em 2018, Santa Catarina deu a Bolsonaro sua maior votação proporcional no primeiro turno, com 65,8% dos votos válidos. Ainda assim, dentro do auditório do evento, não houve sinais de hostilidade: Moraes foi ouvido com atenção por juristas e aplaudido ao fim de suas intervenções.
Postura no palco: atenção, celular e anotações
Na mesa principal, manteve o hábito de alternar entre o celular e anotações enquanto colegas falavam. A condução do painel teve tom leve e observações de bom-humor, mesmo com o mau tempo lá fora.
Logo no início do painel que comandava, avisou, em tom leve, que não toleraria atrasos: “Eu pediria a todos que respeitassem o prazo de 10 minutos porque senão nós não vamos sair daqui hoje e eu diria que com 10 minutos eu vou cortar a palavra de forma muito educada”, disse, arrancando risos.
O juiz Guilherme Feliciano, da 1ª Vara do Trabalho de Taubaté (SP), reagiu em clima de brincadeira e, ao se autodescrever, afirmou: “Diante da advertência do ministro Alexandre, eu faço muito brevemente uma autodescrição, dizendo que eu sou um homem branco, estou com terno preto e tenho cabelos não loiros e encerro desta maneira”. Moraes não perdeu o timing: “Nem a sua mãe vai te reconhecer assim”, devolveu.
Piada sobre golpe e resposta bem-humorada
As piadas continuaram quando João Paulo Santos Schoucair, promotor de Justiça da Bahia e conselheiro do CNJ, relatou ações de combate a golpes envolvendo inteligência artificial — e confessou ter sido vítima de um golpe de R$ 2 mil na semana anterior, ao tentar comprar um hotel de surpresa para a esposa. “Acabei tomando um golpe de R$ 2 mil, então qualquer coincidência não é mera semelhança”, comentou.
Moraes encerrou com outra provocação bem-humorada: “Ninguém aqui acreditou que você tomou um golpe. Na verdade, você deu um golpe na sua mulher fingindo que comprou um presente e culpou depois o golpe. Que fique consignado isso”.
Figurino e exposição pública
Chamou atenção também o figurino do ministro: terno preto e uma gravata de seda laranja estampada com pequenas tartarugas — peça semelhante às gravatas da grife italiana Salvatore Ferragamo, marca frequentemente utilizada por Moraes. Em setembro, ao votar pela condenação de Bolsonaro, ele já havia provocado comentários ao usar uma gravata de cachorrinho da mesma grife, então vendida por US$ 240, cerca de R$ 1,3 mil.
Moraes estava acompanhado pela esposa, a advogada Viviane Barci de Moraes. O casal tem chamado a atenção do público desde que ambos foram enquadrados na Lei Global Magnitsky — legislação dos EUA que permite sancionar pessoas acusadas de corrupção e graves violações de direitos humanos.
Saída reservada e protesto do lado de fora
Apesar do clima descontraído no auditório, Alexandre de Moraes manteve uma postura mais reservada nos bastidores. Não passou pelo espaço destinado à imprensa nem pelo tradicional “cafezinho” oferecido aos participantes. Subiu ao palco, conduziu o painel que liderava e deixou o local em seguida.
Se tivesse decidido aparecer na frente do CIC, onde o evento acontecia, teria se deparado com uma surpresa nada agradável. O ex-deputado estadual por Santa Catarina e ex-secretário de assistência social de Florianópolis, Bruno Souza, promovia uma manifestação contra o ministro do STF.
Com um totem de mais de um metro representando Alexandre de Moraes, Bruno atraía os visitantes para coletar assinaturas com o objetivo, ironicamente, de transformá-lo em “imperador do Brasil”. Segundo ele, a ação servia para “ver quem apoiava o ministro”.
Contexto e limites da cobertura
O episódio reúne elementos que chamam a atenção do público e dos veículos de notícias: o peso simbólico da visita após decisões judiciais de grande repercussão, a reação contida do auditório em um estado eleitoralmente ligado ao ex-presidente, e a convivência entre formalidade institucional e gestos de descontração.
Informações e citações acima foram extraídas diretamente do relato do evento, preservando o conteúdo publicado pela fonte.
Reflexão cristã
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— Leonardo de Paula Duarte

