Entre ameaças e exercícios, tensão militar afeta voos e relações diplomáticas
O anúncio do ex‑presidente Donald Trump de que os Estados Unidos passarão a agir “por terra” contra o narcotráfico ligado à Venezuela elevou a tensão entre Washington e Caracas e provocou reações diretas do presidente Nicolás Maduro.
O anúncio de Trump e dados sobre operações navais
Em contato telefônico com militares durante o Dia de Ação de Graças, Trump afirmou: “Provavelmente já se aperceberam que as pessoas já não querem entregar [droga] por mar, e nós vamos começar a impedi-las por terra. Além disso, por terra é mais fácil, e isso vai começar muito em breve. Avisámo‑los para pararem de enviar veneno para o nosso país”.
O líder republicano não detalhou a natureza das ações terrestres. Ele citou operações no mar do Caribe e no Pacífico nas quais, segundo relatos do comando norte‑americano, as forças dos EUA “mataram mais de 80 pessoas ao destruírem mais de 20 embarcações alegadamente ligadas ao narcotráfico, maioritariamente da Venezuela, desde 1.º de setembro”.
As ações na região mobilizaram um destacamento naval e terrestre que inclui o porta‑aviões USS Gerald R. Ford, descrito na cobertura como o maior navio militar do mundo, com cerca de 4.000 soldados e 75 caças a bordo.
Resposta de Caracas: prontidão aérea e retaliações à aviação civil
Em reação, Nicolás Maduro pediu à força aérea venezuelana que mantenha estado de prontidão. Em discurso transmitido remotamente durante cerimônia na base aérea de Maracay, ele declarou: “Peço a vocês que estejam sempre imperturbáveis na serenidade, alerta, prontos e dispostos a defender os nossos direitos como nação, como pátria livre e soberana, e sei que nunca falharão à Venezuela, sei que a Venezuela conta com vocês”.
Na ocasião, as tropas realizaram um exercício de simulação da interceptação de um avião e de tropas invasoras, enquanto o ministro da Defesa, Vladimir Padrino López, criticou governos que, segundo ele, “se prestam ao jogo imperialista para militarizar o Caribe”.
Consequências imediatas: aviação civil, avisos e diplomacia
No plano civil, a tensão impactou diretamente o tráfego aéreo. A Venezuela revogou licenças de operação de seis companhias — TAP, Iberia, Turkish Airlines, Avianca, Latam Colombia e Gol — e o Aeroporto Internacional de Maiquetía operou com oferta reduzida, com apenas sete partidas e sete chegadas previstas no dia citado.
Autoridades e entidades internacionais reagiram: a FAA dos EUA havia recomendado “extrema cautela” no sobrevoo da Venezuela e do sul do Caribe, desencadeando cancelamentos. A IATA pediu às autoridades venezuelanas que reconsiderem a revogação das concessões de voos, enquanto Portugal deixou claro que não cederia a ameaças após a suspensão da TAP e a Iberia afirmou esperar retomar voos assim que existam condições de segurança.
Paralelamente, o secretário de Guerra dos EUA, Pete Hegseth, visitou o USS Gerald R. Ford para “agradecer às tropas por enfrentarem os cartéis da droga”, e a República Dominicana autorizou os Estados Unidos a utilizar “de forma provisória” dois aeroportos como parte da luta contra o tráfico na região.
O contexto geopolítico e riscos
Analistas apontam que a presença do porta‑aviões e as demonstrações de força — incluindo voos de bombardeiros B‑52H na região — são interpretadas por Caracas como tentativas de isolar o governo Maduro ou de pressionar políticos locais. Por outro lado, Washington vende a ação como combate ao narcotráfico que atinge países da região.
Não há detalhes públicos sobre as medidas terrestres anunciadas por Trump, o que aumenta a incerteza. A falta de especificidade dificulta avaliação clara de riscos e implicações legais para operações em solo estrangeiro.
Reflexão cristã
Em momentos de crise e escalada, as Escrituras nos lembram do valor da paz: “Felizes os que trabalham pela paz, porque serão chamados filhos de Deus” (Mt 5.9, NTLH). Como jornalista e colunista, acredito que o chamado para a paz exige responsabilidade: transparência das autoridades, proteção de civis e diálogo diplomático para evitar maiores sofrimentos.
Devemos orar e agir por soluções que preservem vidas e justiça, sem abandonar a busca por verdade e segurança. Uma resposta firme ao crime organizado precisa caminhar junto com parâmetros legais e respeito aos direitos humanos.
Leonardo de Paula Duarte
Fontes: declarações publicadas sobre o telefonema de Donald Trump, discurso de Nicolás Maduro na base aérea de Maracay, informações sobre operações navais e suspensão de voos conforme cobertura mencionada.

