Por que uma cidade pequena aparece entre os maiores rendimentos do país?
“Tunápolis, no Extremo-Oeste de Santa Catarina, aparece entre os destaques econômicos do país, com média salarial de R$ 5.417.” A afirmação chama a atenção porque o município tem apenas 4,9 mil habitantes, mas figura entre os maiores rendimentos do Brasil.
Para entender esse desempenho é preciso olhar para a estrutura produtiva local e as políticas públicas que apoiam investimentos. “Segundo informações da Prefeitura, parte desse desempenho está ligada a programas voltados ao incentivo econômico, como o Pró-Empresas, que subsidia os juros de empréstimos para fomentar novos investimentos.”
A base: agricultura familiar e pecuária
“A base econômica de Tunápolis, porém, está no campo.” O município conta com 548 propriedades rurais e uma produção diversificada, com destaque para milho, soja e fumo. A pecuária também tem peso significativo: “são mais de 21 mil animais, responsáveis pela produção diária de cerca de 140 mil litros de leite e 260 toneladas de carne por ano.”
Dados do prognóstico da safra 2023/2024 mostram que “agricultura e pecuária respondem por 78% da economia do município”. Esse é um indicador claro: o rendimento médio elevado é puxado por um agronegócio local organizado e produtivo, mesmo em propriedades de pequena escala.
Pequenas propriedades, grande impacto
Boa parte da produção vem de pequenos agricultores: “98,7% das propriedades têm menos de 100 hectares, e mais de 68% têm área inferior a 20 hectares.” Esse perfil revela um modelo de agricultura familiar intensiva, com forte participação do trabalho local e alta densidade produtiva por hectare.
Para manter competitividade, Tunápolis investe em serviços e infraestrutura rural. Manutenção de estradas, terraplanagem e melhorias nas propriedades influenciam diretamente na capacidade de escoamento, reduzindo perdas e acelerando o recebimento de renda pelas famílias.
Políticas locais e contexto estadual
O apoio municipal, por meio de iniciativas como o Pró-Empresas, soma-se a um contexto estadual favorável ao agronegócio. Segundo a 45ª edição da Síntese Anual da Agricultura de Santa Catarina, divulgada pela Epagri/Cepa, o setor respondeu por US$ 7,57 bilhões em vendas ao exterior, o equivalente a 64,9% de tudo o que o estado exportou em 2024. Esse desempenho estadual cria mercados e cadeias que beneficiam municípios produtores.
Ranking e comparação nacional
Tunápolis integra um bloco catarinense de alto rendimento: junto com Petrolândia (R$ 5.989) e Marema (R$ 5.395), forma o grupo de cidades do estado entre os dez maiores rendimentos do país. O ranking é liderado por Nova Lima (MG), com média de R$ 6.929, seguida por São Caetano do Sul (SP), com R$ 6.167, e Santana de Parnaíba (SP), com R$ 6.081.
Os dados divulgados pelo IBGE mostram que a média nacional alcançou a marca de R$ 3.225; Santa Catarina ocupa a quinta posição da maior média salarial do país. Nas capitais, Florianópolis tem rendimento médio de R$ 5.202, o segundo maior do país, atrás apenas de Vitória (R$ 5.242).
O papel da logística e da infraestrutura
Como a maior parte da produção depende de rotas rurais, estradas transitáveis e acessíveis fazem diferença no dia a dia dos agricultores, permitindo que grãos, leite, carne e outros produtos cheguem ao mercado sem atrasos ou perdas. Com propriedades mais organizadas e logística mais eficiente, o ciclo produtivo flui com mais previsibilidade — e isso se reflete na renda das famílias e no desempenho econômico do município.
Identidade, história e lições locais
Tunápolis começou a se formar nos anos 1950, com a chegada de famílias de origem alemã vindas do Rio Grande do Sul. A região era marcada por mata fechada, e a construção das primeiras estradas e propriedades deu início ao povoamento, com forte influência da cultura alemã. O nome surgiu por causa dos cactos tuna, muito comuns na área naquele período.
Em 1989, após um plebiscito, o então distrito de Tunas se emancipou e passou a se chamar Tunápolis. Desde a colonização, o município construiu sua identidade baseada no trabalho, na agricultura familiar e no desenvolvimento organizado — características que ainda definem seu perfil e impulsionam seu crescimento.
Reflexão cristã
A observação das raízes comunitárias e do trabalho familiar em Tunápolis lembra que prosperidade muitas vezes nasce de esforço coletivo, legado e cuidado mútuo. Como está escrito: “Tudo o que fizerem, façam de todo o coração, como para o Senhor e não para as pessoas.” (Colossenses 3:23, NTLH).
Essa perspectiva não substitui a análise econômica, mas oferece um princípio ético: políticas públicas e iniciativas locais que valorizam o trabalho honesto, a cooperação e suporte aos pequenos produtores geram resultados concretos na vida das famílias e na economia regional.
Conclusão: Tunápolis mostra que cidades pequenas podem superar grandes centros em indicadores como renda média quando combinam um setor produtivo forte (no caso, agropecuário), apoio local a investimentos e infraestrutura que permite escoar a produção. O resultado é um exemplo de desenvolvimento rural organizado, com impacto direto na qualidade de vida.
Leonardo de Paula Duarte
