Vídeo secreto mostra EUA matarem sobreviventes em ataque no Caribe; democratas em choque

Almirante Frank Bradley e Dan Caine exibiram filmagem ao Congresso; gravação levanta dúvidas sobre legalidade e ética das operações antidrogas

Militares de alto escalão dos Estados Unidos apresentaram, nesta quinta-feira (4), a membros do Congresso americano um vídeo do ataque a uma embarcação no Caribe ocorrido em 2 de setembro, que mostrou ações em que sobreviventes de uma primeira explosão foram atingidos novamente.

O que a filmagem mostrou e quem a exibiu

Segundo o relato apresentado ao Congresso, os responsáveis por mostrarem a filmagem foram o almirante Frank Mitchell Bradley, então chefe do Comando de Operações Especiais Conjuntas, e Dan Caine, presidente do Estado-Maior Conjunto.

O vídeo, que não foi tornado público até o momento, teria mostrado sobreviventes sem meios de locomoção após uma embarcação ter sido destruída. A divulgação das imagens foi tema de debate: o presidente Donald Trump disse que não via problema na publicação, mas não há confirmação de que isso ocorrerá.

Reações no Congresso

O material causou forte reação entre parlamentares democratas. O deputado Jim Himes, do Connecticut, relatou a jornalistas a preocupação evocada pelas imagens: “Você tem dois indivíduos em claro perigo, sem qualquer meio de locomoção, com uma embarcação destruída, que foram mortos pelos EUA“.

Jack Reed, principal democrata no Comitê de Serviços Armados do Senado, afirmou estar “profundamente perturbado” e disse que “Este briefing confirmou meus piores temores sobre a natureza das atividades militares da gestão Trump“, pedindo a divulgação do vídeo ao público.

Do lado republicano, houve defesa das ações militares. O senador Tom Cotton afirmou: “Eu vi dois sobreviventes tentando virar de volta um barco, carregado de drogas destinadas aos EUA, para que pudessem continuar na luta“. O deputado Rick Crawford, membro do comitê de inteligência da Câmara, emitiu declaração defendendo que os ataques eram legais.

Contexto operacional e legal

As operações no Caribe vêm sendo justificadas pelos EUA como combate ao tráfico de drogas e ocorrem há cerca de três meses. As autoridades americanas dizem que o incidente em questão matou 11 pessoas, e que os mortos eram suspeitos de tráfico — “os EUA os acusam, sem mostrar qualquer evidência, de serem traficantes de drogas”, segundo relato às autoridades.

Relatos indicam que houve dois bombardeios no episódio; a possibilidade de um segundo ataque aumentou a pressão sobre o secretário de Defesa Pete Hegseth. Hegseth já havia sido alvo de críticas após uma investigação do Pentágono responsabilizá‑lo por usar o aplicativo Signal em dispositivo pessoal para enviar informações sensíveis sobre ataques planejados no Iêmen, que vazaram na imprensa.

Do ponto de vista do direito internacional humanitário, especialistas citados no relato lembram que “matar feridos em ataques, mesmo em eventual conflito armado, é ilegal“. O direito internacional não permite ataques contra pessoas que não ofereçam perigo iminente, a não ser que sejam combatentes inimigos em contexto de conflito armado — situação que, segundo analistas, não se aplica ao Caribe. Mesmo em caso de conflito, a segunda ação sobre feridos poderia configurar crime de guerra, porque combatentes feridos têm direito a proteção.

O que está comprovado e o que permanece em aberto

Do material disponível publicamente, são pontos confirmados: a existência do vídeo exibido a legisladores, a participação de Bradley e Caine no briefing, a declaração de parlamentares democratas sobre a gravidade das imagens e o número de mortos no incidente (11).

Permanece ainda sem comprovação pública a versão completa das forças americanas sobre a necessidade do segundo ataque, bem como evidências materiais apresentadas pelas autoridades para sustentar a acusação de tráfico. Também não ficou claro se o vídeo será tornado público e se investigações formais sobre a conduta dos envolvidos serão abertas ou ampliadas.

Reflexão cristã — Leonardo de Paula Duarte

Como cristão e jornalista, vejo que a notícia suscita perguntas de ética, responsabilidade e justiça. Há momentos em que o poder militar e a urgência de uma missão se chocam com a proteção à vida e à dignidade humana. Em meio a isso, lembro as palavras de Jesus na NTLH: “Felizes os que têm fome e sede de justiça, pois serão saciados” (Mateus 5:6, NTLH). Essa passagem não é um julgamento político, mas um convite à busca serena e persistente pela verdade e pela justiça.

Peço aos leitores que cobrem transparência das autoridades e que defendam o devido processo. A fé nos chama a valorizar a vida e a verdade, e a exigir que Estados e militares cumpram normas internacionais e responsabilizem eventuais abusos.

Leonardo de Paula Duarte

Fontes: relato apresentado a parlamentares dos EUA; declarações de Jim Himes, Jack Reed, Tom Cotton; reportagens citadas sobre Pete Hegseth e investigação do Pentágono.

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