Relato de sobrevivência em meio ao incêndio que atingiu oito torres residenciais
William Li, de 40 anos, passou cerca de duas horas dentro de um dos edifícios que pegou fogo em Hong Kong. Em entrevista, ele disse que chegou a se despedir da família e dos amigos porque, naquele momento, “Pensei que ia morrer”.
O momento em que o fogo parecia inexorável
Li conta que, junto com um casal vizinho, tentou chamar a atenção dos bombeiros usando as lanternas dos celulares — uma tentativa que, em um primeiro momento, não surtiu efeito. Depois de uma nova tentativa, os agentes finalmente os avistaram e os focos de incêndio foram atacados com mangueiras, ganhando tempo para o resgate.
Segundo o relato de Li, “No início, eles tiveram dificuldade para colocar a escada de incêndio na nossa unidade – o andaime estava no caminho e havia detritos caindo dos andares superiores. Pouco depois das 17h, eles finalmente chegaram à nossa janela”. A mulher do casal insistiu para que Li saísse primeiro, mas ele respondeu: “Não, vá você primeiro. Eu sou mais jovem”. Primeiro saiu ela, depois o marido, e Li ficou por último.
Durante minutos em que ficou sozinho no apartamento, descreveu o ambiente como “muito sombrio” e recordou a angústia ao olhar ao redor para tentar levar algo. “Queria levar tudo, mas não podia levar nada: a janela era muito estreita, com espaço suficiente apenas para uma pessoa sair na diagonal”.
O resgate, o que restou e o retorno à rua
Ao escapar, Li conseguiu sair com o relógio da mulher e algum dinheiro. Contou também que, ao subir a escada, sentiu como se o tempo tivesse desacelerado e que ficou profundamente triste por deixar a casa para trás: “Estava encharcado pelas mangueiras dos bombeiros e sentia muito frio… Parecia que o céu estava caindo. Tudo o que eu tinha estava virando pó.”
No chão, os bombeiros os levaram a um local mais calmo e ofereceram bebida para hidratação. As ruas estavam bloqueadas e ambulâncias não conseguiam chegar ao local. Segundo Li, “Os bombeiros disseram que podíamos sair por conta própria. O casal e eu trocamos números [de celular e seguimos caminhos diferentes.” Ele foi ao encontro da família; os filhos choraram muito. Ao todo, William Li esteve duas horas no prédio em chamas.
Números da tragédia e lacunas ainda sem resposta
O incidente atingiu oito torres residenciais e é considerado o mais mortal do tipo na cidade desde 1948. De acordo com os dados relatados nas fontes, ao menos 128 pessoas morreram, 79 ficaram feridas, e a situação de cerca de 200 pessoas ainda é incerta — um conjunto que inclui 80 corpos não identificados.
Além do sofrimento individual relatado por Li, esses números mostram a dimensão coletiva da tragédia: famílias desamparadas, pessoas sem identificação e um sistema de emergência pressionado pela escala do desastre.
O que o relato ajuda a entender
O depoimento de um sobrevivente como William Li traz elementos humanos que complementam os números. Revela dificuldades práticas do resgate — andaimes e detritos que impediram a colocação imediata das escadas — e o impacto emocional de quem vê a própria casa sendo consumida e teme por tudo o que importa.
Ainda que os detalhes operacionais completos sobre a origem do incêndio ou possíveis falhas nos sistemas de alarme não estejam esgotados nas informações disponíveis, relatos como este ajudam a traçar prioridades para investigação: tempo de resposta, condições das escadas e andaimes, acessibilidade dos bombeiros e protocolos de evacuação em prédios altos.
Reflexão cristã — esperança e cuidado comunitário
Em meio ao medo e à perda, a fé pode oferecer consolo e um chamado à ação concreta. Como diz a Escritura: “O Senhor está perto dos que têm o coração partido; ele salva os de espírito abatido” (Salmos 34:18, NTLH). Essa promessa não anula a dor, mas lembra que a esperança e o amparo divinos caminham com o sofrimento humano.
Também há um apelo prático: comunidades que se unem, vizinhos que ajudam, profissionais de resgate que arriscam suas vidas — tudo isso reflete valores cristãos de compaixão e serviço. Em momentos de crise, pequenas atitudes de cuidado e solidariedade contam tanto quanto a ação das equipes de emergência.
Que a história de sobrevivência e as dificuldades relatadas por William Li inspirem não só investigações técnicas e melhorias em segurança, mas também um engajamento mais profundo de cada comunidade para apoiar os mais vulneráveis.
Leonardo de Paula Duarte

