OCUPAÇÃO DE ESPAÇOS E RELAÇÕES NAS MEDIAÇÕES HISTÓRICAS
Prof. Me. Iran Gomes Brito
Não há quem desabone entrar no reinado dos céus, inclusive, a respeito deste se formam no imaginário coletivo multifacetadas concepções, cada uma mais atraente que a outra. Porém, não é suficiente imaginar o reinado de Deus como uma realidade a ser alcançada apenas na vida pós-morte. Ora, o depois existe em razão do antes e este incide naquele, necessariamente. Interessa, dessa maneira, perseguir um itinerário que seja capaz de atravessar o espaço e irromper-se, no tempo, por isso, lindamente o Papa Francisco afirma: “o tempo é superior ao espaço.”
No horizonte de compreensão do Pontífice, espaço são os lugares que ocupamos. E a partir destes lugares, melhor que assumi-los como sinônimo de poder e dominação, valem a construção de relações justas e o esforço de em cada momento encetar a fraternidade como sentido último da vida, na bondade de coração de todos por cada um e cada um por todos. Sem dúvida, reside aí o sentido do elogio feito ao administrador “desonesto”, na parábola contada por Jesus (Lc 16,8). Interessou-lhe trabalhar na construção de relações que pudessem lhe hospedar nas moradas eternas, ou seja, do espaço que ocupava se lançou ao que é superior: o tempo!
As sociedades civis, como igualmente a Igreja, nos seus modos organizacionais constroem muitos espaços. Para citar alguns destes espaços civis: prefeitura (prefeito), secretarias (secretários), diretorias (diretores). Eclesiasticamente falando, também, à maneira de ilustrações seguem três exemplos de espaços: paróquia (pároco), diocese (bispo), coordenação diocesana de pastoral (coordenadores). Assim, visto que se trata de lugares que aparentemente configuram poder, convém, pois, raciocinar com o Papa Francisco: “Dar prioridade ao espaço leva-nos a proceder como loucos para resolver tudo no momento presente, para tentar tomar posse de todos os espaços de poder e auto-afirmação”.
Não compreendendo o jogo de articulação do Papa Francisco, isto é, de que “o tempo é superior ao espaço”, muitos são os que pervertem tais espaços, pois estes deixam de serem lugares de serviços dos simples servos (Lc 17,10), dando lugar a pavonice de desvairados. Pois, há sempre a possibilidade de surgir nestes espaços quem se pretenda “dono” deles. Por exemplo, o prefeito achar-se dono da prefeitura e do município; de secretários se arrogaram senhores das secretarias, diretores seja lá do que for se achar dono do espaço a que dirigem. Na Igreja, também há o risco de: párocos se considerarem donos da paróquia; bispos, donos das dioceses; coordenadores de pastorais, senhores da pastoral e de tudo.
Por isso, ecoe, pois, fortemente em nossos corações a maravilhosa intuição do Papa Francisco: “o tempo é superior ao espaço”. Deste modo, quem vier ocupar lugares de articulação, de coordenação e de direção de alguma coisa, não deve pretender-se “dono”, posto, que é lugar apropriado para criar relações profundas, tecer amizades consistentes, fortalecer a fraternidade e, sobretudo, criar ao modo da Trindade, a santa comunhão de que tanto o coração humano precisa e que pode fazer deste mundo uma casa de irmãos!
Enfim, espaços são os lugares que ocupamos no cumprimento de alguma tarefa/missão e o tempo são as relações que nas mediações históricas construímos e que podem se eternizar!
72 comentários