ENTRE O EFÊMERO E A CONSISTÊNCIA

ENTRE O EFÊMERO E A CONSISTÊNCIA

Prof. Me. Iran Gomes Brito

Entre o efêmero e a consistência caminha a humanidade, desafiada a escolher, enquanto portadora do compromisso humanitário de um mundo melhor, mais humano e habitável. Contudo, não se trata de fácil tarefa, principalmente, quando somos tomados por uma percepção não pessimista, mas realista da premente realidade que cambaleia pela ausência de sólidos projetos tanto no âmbito pessoal, comunitário e social. A exemplo desta constatação, o exponencial pensador, Zygmunt Bauman, sociólogo e filósofo polonês adjetiva a sociedade, o mundo e as relações hodiernas como líquidas.

            Ora, liquidez é a ausência de referenciais consistentes. Essa extinção leva Jean Baudrillardvociferar no sentido de que “tudo que é sólido se desmancha no ar”. Por isso, projetos que antes conformavam um alinhamento social “sólido”, hoje assumem novos contornos, são questionados e, servem, inclusive, de bandeiras eleitorais. Daí se explica porque um dos presidenciáveis, na eleição de 2022, intitular o seu slogan de campanha: ‘Deus, pátria e família’. Todavia, cabe a interrogação: quem levanta tais bandeiras, com o próprio testemunho de vida as sustentam?

            Considerando a efemeridade uma realidade que não se pode negar, igualmente, não negando as crisesinstitucionais, a fé rezada e professada atesta-nos que existe um caminho a percorrer, qual seja: “caminhando entre as coisas que passam, possamos abraçar as que não passam”.  De fato, nesta travessia vulcanizada de incertezas, importa fazermos escolhas que arrojem o nosso projeto de vida que, embora parta a princípio do eu de cada pessoa, a mira seja sempre a dimensão comunitária da existência, pois, não se cansa de lembrar-nos o querido Papa Francisco: “estamos todos no mesmo barco”.

            Devemos, pela força do Deus comunitário da fé cristã adquirir uma clarividente consciência da existência para além de si. Pensar comunitariamente, isto é, pensar como um entre bilhões, será, sem dúvida, o antídoto para curar tantas chagas que fazem a humanidade padecer. A título de exemplificação destas chagas, vale frisar o aberto entrave das duas guerras atuais: Israel e Palestina, Ucrânia e Rússia, sem dizer das silentes guerras no micro das relações interpessoais.

            A efemeridade e a ausência de consistência constatadas hoje, têm em grande medida origem no coração humano, que se revela diminuído enquanto razão da sua existência, a de ser com os outros e, com estes, formar uma fraternidade solidária. Um diluído coração não produz senão o fosso nas relações. Assim, enquanto caminha a humanidade na direção de sua meta, o infinito, o bom mesmo é assumirmos juntos e enquanto é tempo,a profundidade da vida feita de nós, para testemunharmos com qualidade de presença o que é consistente!

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