Documento Catequese Renovada: quatro décadas de história

Documento Catequese Renovada: quatro décadas de história

Prof. Me. Luís Oliveira Freitas (Doutorando em Teologia, PUC-Rio)

O documento Catequese Renovada, orientações e conteúdo foi aprovado pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, há quarenta anos. Ele consistiu no esforço de se colocar em prática os apelos do Papa João Paulo II que, em 1980, em sua visita ao Brasil afirmou que o futuro da Igreja neste país dependeria de uma catequese sólida, segura, alicerçada no ensinamento da Igreja, logo os bispos deveriam tratar desse tema em suas assembleias nacionais, regionais e diocesanas. Mas antes desse pedido já havia esforços de catequistas e catequetas desde a década de 1960 no sentido de uma renovação da catequese. A base de toda essa renovação está nos documentos do Concílio Vaticano II, dos documentos frutos das conferências de Medellín e Puebla, das exortações apostólicas Evangelii Nuntiandi, de Paulo VI, e Catechesi Tradendae, de João Paulo II, bem como os encontros de catequese realizados em nível nacional e latino-americano. Também não podemos esquecer que o episcopado brasileiro, nas assembleias gerais de1979 e 1980 já havia demonstrado interesse pela catequese, escolhendo-a como tema de reflexões e decisões.

Em 1980, o episcopado determinou a elaboração de um pequeno documento com um núcleo ou roteiro de catequese para ser aplicado em nível nacional. Foi então elaborado um texto-base para ser discutido de maneira mais aprofundada pelos bispos nas assembleias gerais de 1981, 1982 e 1983. Ao longo desse período, além da comissão responsável pelo texto, houve o envolvimento e participação de muitos catequistas de base e grande número de catequetas que deram sua contribuição de forma direta, apresentando ideias para serem colocadas no texto, como também apresentando suas experiências catequéticas. Para isto, foram elaborados dois instrumentos de trabalho, para envolver o maior número possível de pessoas nesse processo. O documento que inicialmente havia sido pensado como um roteiro de temas para serem desenvolvidos na ação catequética, tornou-se um texto mais amplo trazendo uma nova concepção de catequese. Sua aprovação definitiva ocorreu na 21ª Assembleia Geral, em 1983, publicado pelas Edições Paulinas e acolhido pelos catequistas de forma entusiasta. Podemos afirmar que seu processo de construção e de recepção ocorreu de forma sinodal, embora na época não se usasse essa terminologia.

O documento Catequese Renovada foi marcado pela dimensão sociolibertadora do imediato pós-Concílio, destacando a interação que deve haver entre a formulação da fé e a experiência de vida. Sobre isso, o documento expressa: “De um lado, a experiência da vida levanta perguntas; de outro, a formulação da fé é busca e explicitação das respostas a essas perguntas. De um lado, a fé propõe a mensagem de Deus e convida a uma comunhão com ele, que ultrapassa a busca e as expectativas humanas; de outro, a experiência humana é questionada e estimulada a abrir-se para esse horizonte mais amplo” (CR 113). Ao propor os temas fundamentais para inspirar a ação catequética, o documento orienta que o eixo central que permeia toda a apresentação da mensagem é o da comunhão-participação num processo comunitário. Ao lado de temas como Jesus Cristo, a Igreja, os sacramentos, Maria, há grande preocupação com o compromisso do cristão na sociedade em que vive. Dentre esses compromissos, podemos destacar que, ao dar sua resposta à proposta de Cristo para abraçar a fé cristã na comunidade eclesial, o cristão deve colaborar na construção de uma história da qual todos possam participar de forma fraterna. A vivência da fé deve acontecer em todos os âmbitos como a família, o mundo do trabalho, da política, no compromisso com os necessitados, na luta pela promoção da justiça e da dignidade humana, do desenvolvimento integral e da paz, do diálogo com as culturas, ideologias e religiões, sem perder a esperança escatológica e comunhão final com Deus (CR 246-280).

O documento Catequese Renovada foi objeto de estudo e reflexão para os catequistas das dioceses desse país até a aprovação do Diretório Nacional de Catequese, em 2005. No estado do Maranhão, houve muitos momentos formativos de catequistas e outros agentes de pastoral para aprofundar o conteúdo deste documento e aplicá-lo na prática cotidiana. É verdade que a catequese do Regional Nordeste 5 ainda tem muito a avançar, mas, com certeza, muitos desses avanços foram possíveis graças às orientações de Catequese Renovada, que ajudou na formação de um novo jeito de pensar e fazer acontecer a ação catequética promovendo a interação fé e vida na família, na comunidade cristã e na sociedade.

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