O DEUS DAS SUTILEZAS E AS SUTILEZAS DE DEUS

O DEUS DAS SUTILEZAS E AS SUTILEZAS DE DEUS

Prof. Me. Iran Gomes Brito

A Palavra de Deus de quem somos devedores da escuta atenta, fiel e amorosa não existe para nos pôr medo, mas para revelar-nos a sua presença e a sua assistência cotidiana. De fato, Deus nos assiste e nos conduz, sempre. No entanto, não é tão simples constatar a presença Dele, quando no centro da atração do atual momento que atravessamos o que conta são prodígios, sinais miraculosos e manifestações grandiloquentes.

O Deus de Jesus Cristo se revela nas sutilezas da existência humana e no coração de todas as coisas. Para exemplificação da tenuidade e agudeza de Deus, recordemos a experiência do profeta Elias, no monte Horeb (1Rs 19,9a.11-13), a prova viva do que estamos falando. O que narra daquela experiência teofanica? Primeiro, de que Deus não estava no vento impetuoso, tampouco no terremoto e menos ainda no fogo. Trata-se de fenômenos bombásticos e altissonantes, alusões daquilo que é visível e atrativo, na vigente sociedade do espetáculo.

Na experiência do profeta, o Deus das sutilezas é sentido e abstraído na simplicidade, “na brisa leve”, isto é, na discrição, ou no quase insignificante. Explica-se, porque um inteligente teólogo do século XX, Karl Josef Erich Rahner, ousadamente adverte-nos: “O cristão do futuro, ou será místico ou não será cristão”. Ou seja, as sutilezas de Deus são abstraídas tão e somente por quem tem a capacidade de fazer discernimentos no Espírito.

Discernir é, em último passo, jogar luz, evidenciar, ou ainda, “a capacidade seletiva de acertar, sempre, nos melhores caminhos para determinados objetivos” (Pe. Pedro Américo Maia sj). O apóstolo Paulo lindamente faz-nos compreender isto quando afirma: “por esta razão, nós também, desde o dia em que o ouvimos, não cessamos de orar por vós, e de pedir que sejais cheios do conhecimento da sua vontade, em toda a sabedoria e inteligência espiritual” (Cl 1, 9).

Ora, é mediante a inteligência espiritual que adquirimos conforme o jesuíta padre Pedro Américo: “um modo de ser, no que há de mais elevado em nós, o fator pelo qual percebemos os valores transcendentes”, ou seja, o finalismo divino da vida. Trata-se, da construção do homem interior, moldura que só se adquire por meio da Palavra de Deus que neste mês de setembro, principalmente, torna-se, o dom que nos interpela e nos conforma.

Daí, portanto, evidenciar-se a necessidade imperativa de sermos pela Palavra de Deus genuínos discípulos bem formados (Lc 6,40), na mística, que é condição de possibilidade para contemplarmos o Deus das sutilezas e as sutilezas de um Deus cuja revelação foge do miraculoso espetáculo, passando igualmente longe do fantástico!

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